segunda-feira, 2 de junho de 2014

Osho: O QUE É A DEPRESSÃO?

  Osho


Perguntaram a Osho:
Amado Osho, 
Antigamente se chamava melancolia; hoje se chama depressão e é considerada um dos maiores problemas psicológicos dos países desenvolvidos. Ela é descrita como uma sensação de desespero ou um estado sem esperança, uma perda de auto-estima sem nenhum entusiasmo ou interesse pelo ambiente. Em adição, existem sintomas físicos de falta de apetite, falta de sono e uma perda da energia sexual. Os tratamentos com eletrochoque foram largamente abandonados hoje em dia e as drogas e a terapia verbal parecem ser igualmente efetivas - ou não efetivas. Explicações para a depressão têm variado do químico para o psicológico.
O que é a depressão? É uma reação a um mundo depressivo, um tipo de hibernação durante 'o inverno de nosso descontentamento'? É a depressão somente uma reação à repressão - ou opressão - ou é apenas uma forma de auto-repressão?


O homem sempre viveu com esperança, um futuro, um paraíso em algum lugar distante. Ele nunca viveu no presente - sua era de ouro ainda está por vir. Isto o manteve entusiasmado porque grandes coisas iam acontecer; todos os seus desejos iam ser preenchidos. Havia grande prazer na antecipação. Ele sofria no presente; ele era miserável no presente. Mas tudo isto era completamente esquecido nos sonhos que iam ser preenchidos no amanhã. O amanhã sempre foi doador de vida.
Mas a situação mudou. A velha situação não era boa porque o amanhã - que preencheria os sonhos dele - nunca se tornou verdade. Ele morreu esperando. Mesmo em sua morte ele estava esperando por uma vida futura - mas ele verdadeiramente nunca experimentou nenhuma alegria, nenhum significado. Mas isto era tolerável. Era somente uma questão de hoje; ela irá passar e o amanhã é certo que vai chegar.

Os profetas religiosos, messias, salvadores estavam lhe prometendo todos os prazeres - que são condenados aqui - no paraíso. Os líderes políticos, os ideólogos sociais, os utopistas estavam lhe prometendo a mesma coisa - não no paraíso mas aqui na terra -
 em algum momento distante no futuro, quando a sociedade passar por uma revolução total e não houver mais pobreza, nem classes, nem governo e o homem for absolutamente livre e tiver tudo o que ele precisa.

Ambos estão basicamente preenchendo a mesma necessidade psicológica. Para aqueles que eram materialistas, as utopias ideológicas, políticas, sociológicas eram atraentes; para aqueles que não eram tão materialistas, os líderes religiosos atraíam. Mas o objeto de atração era exatamente o mesmo: tudo o que você pode imaginar, pode sonhar, pode desejar, será totalmente preenchido. 
Com estes sonhos, as misérias do presente parecem ser muito pequenas.

Havia entusiasmo no mundo; as pessoas não estavam deprimidas. A depressão é um fenômeno contemporâneo e 
ela aconteceu porque agora não existe amanhã. Todas as ideologias políticas falharam. Não existe nenhuma possibilidade de que o homem seja mesmo igual, nenhuma possibilidade de que haja um tempo onde não exista governo, nenhuma possibilidade de que todos os sonhos sejam preenchidos.

Isso veio como um grande choque. Simultaneamente o homem se tomou mais maduro. Ele pode ir a uma igreja, a uma mesquita, a uma sinagoga, a um templo - mas estas são somente conformidades sociais, porque ele não quer, em tal estado depressivo e negro, ser deixado sozinho; ele quer estar com a massa. Mas basicamente 
ele sabe que não existe paraíso; ele sabe que nenhum salvador virá.

Os hindus esperaram cinco mil anos por Krishna. Ele prometeu não somente que voltaria mais uma vez, ele prometeu que sempre que houvesse miséria, sofrimento, sempre que o vício estivesse acima da virtude, sempre que pessoas bondosas e simples e inocentes fossem exploradas pelos astutos e pelos hipócritas, ele viria. Mas por cinco mil anos 
nenhum dele sinal foi visto.

Jesus prometeu que ele voltaria e quando perguntado quando, ele disse: "Em breve". Eu posso esticar "Em breve", mas 
não por dois mil anos; isto é demais.

A idéia de que nossa miséria, nosso sofrimento, nossa angústia será levada embora 
não é mais atraente. A idéia de que existe um Deus que cuida de nós parece ser simplesmente uma piada. Olhando para o mundo, não parece como se alguém estivesse cuidando.

De fato, na Inglaterra existem 
quase trinta mil pessoas que são adoradoras do diabo - somente na Inglaterra, uma pequena parte do mundo. E vale a pena examinar a ideologia deles com relação à sua pergunta. Eles dizem que o diabo não está contra Deus, o diabo é filho de Deus. Deus abandonou o mundo e agora a única esperança é persuadir o diabo para tomar conta pois Deus não está tomando conta.

E trinta mil pessoas estão adorando o diabo como um filho de Deus... e a razão é que eles 
sentem que Deus abandonou o mundo - ele não mais se preocupa com ele. Naturalmente, o único jeito é apelar para o seu filho; se de algum modo ele pode ser persuadido por meio de rituais, preces, adoração, talvez a miséria, a escuridão, a doença possam ser removidas. Esse é um esforço desesperado.

A realidade é que o 
homem sempre viveu na pobreza. Tem uma coisa bela na pobreza: ela nunca destrói a sua esperança, ela nunca vai contra os seus sonhos, ela sempre traz entusiasmo para o amanhã. Pode-se ser cheio de esperança, acreditando que as coisas serão melhores: este período negro já está passando, logo haverá luz.

Mas 
esta situação mudou. Nos países desenvolvidos... e lembre-se: o problema da depressão não está nos países não desenvolvidos - nos países pobres as pessoas ainda são esperançosas - ela está apenas nos países desenvolvidos, onde eles podem ter tudo o que sempre desejaram. Agora o paraíso não irá mais funcionar; nem uma sociedade sem classes pode ajudar. Nenhuma utopia será melhor. Eles atingiram a meta - e este atingir a meta é a causa da depressão. Agora não existe mais esperança: o amanhã será negro e o dia depois de amanhã será ainda mais negro.

Todas estas coisas que eles sonharam eram muito belas. Eles nunca olharam para as implicações. Agora que eles as têm, eles as receberam com a implicações. Um homem é pobre, mas ele tem um apetite. E é melhor ser pobre ter um apetite do que ser rico e não ter um apetite. O que você irá fazer com todo o seu ouro, com toda a sua prata, com todos os seus dólares? Você 
não pode comê-los.

Você tem tudo, mas o apetite para o qual você esteve se esforçando todo o tempo desapareceu. Você teve sucesso - e eu disse repetidas vezes que 
nada fracassa como o sucesso. Você atingiu um lugar que você gostaria de atingir, mas você não estava consciente dos subprodutos. Você tem milhões de dólares, mas você não pode dormir.

Quando Alexandre estava na Índia encontrou um santo nu no deserto.

Ele declarou: "Eu sou Alexandre, o Grande!"

O santo disse: "Você 
não pode ser."

Ele disse, "Que bobagem! Eu mesmo estou dizendo isso, e você pode ver meus exércitos em todo o lugar."

Ele disse: "Eu vejo os seus exércitos, mas um que chama a si mesmo 'O Grande' ainda não atingiu a grandeza, porque a grandeza faz as pessoas humildes, de forma que isso 
é um fracasso, um fracasso absoluto."

Alexandre era um discípulo de Aristóteles e foi treinado por ele na lógica pura. Ele não podia ouvir todo esse lixo místico. Ele disse: "Eu não acredito nessas coisas. Eu 
conquistei o mundo inteiro".

O homem nu disse: "Se neste deserto que você está sedento, e eu 
ofereço-lhe um copo de água, quanto você seria capaz de me dar por ele? - e por milhas não há água."

Alexandre disse: "Eu lhe daria 
metade do meu reino."

O santo disse: "Não, não vou vendê-lo pela metade do reino. Ou você tem o reino, ou tem o copo de água. E você está sedento e você está morrendo e não há possibilidades de encontrar água em qualquer lugar - o que você vai fazer?"

Ele disse: "Então, naturalmente, eu lhe darei 
todo o reino."

O santo riu e disse: "Então esse é o preço do seu reino inteiro - apenas um copo de água! E 
você acha que conquistou o mundo inteiro? A partir de hoje comece a dizer que conquistou um copo de água inteiro."

Quando um homem atinge os objetivos que ele acalentou, então ele se torna consciente de que 
existem muitas coisas em volta deles. Por exemplo, por toda a sua vida você tenta ganhar dinheiro, pensando que um dia, quando você o tiver, você viverá uma vida relaxada. 

Mas você esteve tenso por toda a sua vida – a tensão se tornou a sua disciplina - e no fim de sua vida, quando você conquistou todo o dinheiro que você quis, você não pode relaxar. Toda uma vida disciplinada com tensão e angústia e preocupação não irá relaxá-lo. Assim você não é um ganhador, você é um perdedor. Você perde o seu apetite, você destrói a sua saúde, você destrói a sua sensibilidade, sua delicadeza. Você destrói o seu senso estético - porque não existe tempo para todas estas coisas que não produzem dólares.

Você está correndo atrás de dólares - quem tem tempo para olhar as rosas e quem tem tempo para olhar os pássaros voando, e quem tem tempo de olhar a beleza dos seres humanos? Você 
adia todas essas coisas de maneira que um dia, quando você tiver tudo, você irá relaxar e desfrutar. Mas com o tempo você teve tudo, você se tornou um certo tipo de pessoa disciplinada - que está cego para as rosas, que está cego para a beleza, que não pode desfrutar a música, que não pode entender a dança, que não pode entender a poesia, que só pode entender os dólares. Mas tais dólares não dão satisfação.

Esta é a causa da depressão. É por isto que ela ocorre somente nos países desenvolvidos e somente nas classes mais ricas dos países desenvolvidos - nos países desenvolvidos existem pessoas pobres também, mas elas não sofrem de depressão - e agora você não pode dar ao homem nenhuma esperança para remover a sua depressão porque ele tem tudo, mais do que você pode prometer. Sua condição é realmente lastimável. Ele nunca pensou nas implicações, ele nunca pensou nos subprodutos, ele nunca pensou no que estava perdendo ganhando dinheiro.

Ele nunca pensou que perderia tudo aquilo que o poderia fazer feliz simplesmente porque ele 
sempre empurrou todas estas coisas para o lado. Ele não tinha tempo e a competição era dura e ele tinha que ser duro. No final ele descobre que o seu coração está morto, sua vida é sem sentido. Ele não vê nenhuma possibilidade no futuro de qualquer mudança, porque: "O que mais existe...?"

Eu costumava ficar em Sagar na casa de um homem muito rico. O velho homem era muito bonito. Ele era o maior fabricante de bidi em toda a índia. Ele tinha tudo o que você pode imaginar, mas ele era 
absolutamente incapaz de desfrutar qualquer coisa.

Desfrutar é algo que tem que ser nutrido. É uma certa disciplina, uma certa arte - a maneira de desfrutar - e leva tempo para se entrar em contato com as grandes coisas da vida. Mas o homem que está correndo atrás do dinheiro 
passa ao lado de tudo que é uma porta para o divino, e ele chega no fim da estrada e não há nada na sua frente exceto a morte.

Toda a sua vida ele foi miserável. Ele tolerou e ignorou isto na esperança de que as coisas iriam mudar. Agora ele não pode ignorar e não pode tolerar porque amanhã existe somente a morte e nada mais. E o acúmulo de miséria de toda a vida que ele ignorou, o sofrimento que ele ignorou, 
explode em seu ser.

O homem mais rico, de um modo, é o homem mais pobre no mundo. Ser rico e não ser pobre é uma grande arte. Ser pobre e ser rico é o outro lado da arte. Existem pessoas que são pobres as quais você achará imensamente ricas. Elas não têm nada, mas elas são ricas. Suas riquezas não estão em coisas mas 
no seu ser, nas suas experiências multidimensionais.

E há pessoas ricas que têm tudo mas são absolutamente pobres e 
vazias e ocas. Bem dentro existe somente um cemitério.

Não é uma depressão da sociedade, porque então ela afetaria os pobres também; é simplesmente uma 
lei natural e o homem agora tem que aprender isto. Até agora não havia necessidade, porque ninguém tinha atingido um ponto onde ele tinha tudo, enquanto dentro havia completa escuridão e ignorância.

A primeira coisa na vida é encontrar sentido 
no momento presente.

O sabor básico do seu ser deveria ser de amor, de alegria, de celebração. Então você pode fazer tudo; os dólares não irão destruir isto. Mas você coloca tudo de lado e simplesmente corre atrás de dólares achando que os dólares podem comprar tudo. E então um dia você descobre que eles 
não podem comprar nada - e você devotou toda a sua vida aos dólares.

Esta é a causa da depressão. E particularmente no ocidente a depressão está sendo muito profunda. No oriente existiram pessoas ricas, mas havia uma certa dimensão disponível. Quando a estrada da riqueza chegava a um fim, eles não permaneciam parados lá; eles se moviam para novas direções. Esta nova direção estava no ar, disponível por séculos. No oriente o pobre estava em uma condição muito boa e o rico estava em uma condição tremendamente boa. O pobre aprendeu o contentamento assim eles não se preocupavam em correr atrás da ambição. E o rico entendeu que um dia você tem que renunciar tudo isto e 
ir em busca da verdade, em busca do significado.

No ocidente, no final, a estrada simplesmente acaba. Você pode voltar, mas voltando não irá ajudar sua depressão. Você precisa uma nova direção. Gautama Buda, Mahavira, ou Parshvanath - essas pessoas estavam no pico da riqueza e então elas viram que ela é quase uma carga. 
Alguma coisa a mais tem que ser encontrada antes que a morte tome posse de você - e elas foram corajosas o suficiente para renunciar a tudo.

Suas renúncias foram mal entendidas. Elas renunciaram a tudo isto porque elas não queriam se preocupar um simples segundo mais com o dinheiro, com o poder - porque elas 
viram o topo e não há nada lá. Elas foram ao mais alto degrau da escada e descobriram que ela não leva a nenhum lugar; é somente uma escada levando a nenhum lugar.

Enquanto você está em algum lugar no meio ou mais baixo que o meio, você tem uma esperança porque existem outros degraus mais altos que você. Chega um momento quando você está no degrau mais alto e 
só existe o suicídio ou a loucura - ou hipocrisia; você continua sorrindo até que a morte acaba com você, mas bem no fundo você sabe que está desperdiçando a sua vida.

No oriente, a depressão nunca foi um problema. O pobre aprendeu a desfrutar o pouco que ele tinha e o rico aprendeu que ter todo o mundo aos seus pés não significa nada - você tem que ir em busca do significado, não do dinheiro. E eles tinham precedentes; por milhares de anos as pessoas foram em busca da verdade e a encontraram. Não há necessidade de ficar desesperado, em depressão, 
você apenas tem que se mover para uma dimensão desconhecida. Eles nunca a exploraram, mas quando eles começam a explorar a nova dimensão - ela significa uma jornada interior, uma jornada para eles próprios - tudo o que eles haviam perdido começa a retomar.

O ocidente 
precisa urgentemente de um grande movimento de meditação; de outra forma, essa depressão irá matar pessoas. E essas pessoas serão as talentosas - porque elas conquistaram poder, elas conquistaram dinheiro, elas conquistaram o que elas queriam... os mais altos graus de educação. Estas são as pessoas de talento e elas estão se sentindo desesperadas.

Isto será perigoso porque as pessoas mais talentosas não estão mais entusiasmadas com a vida e as sem talento estão entusiasmadas com a vida mas elas nem mesmo têm talento para ter poder, dinheiro, educação, respeitabilidade. Elas não têm os talentos, assim elas estão sofrendo, se sentindo em desvantagem. Elas estão se tornando terroristas, elas estão se voltando em direção à violência desnecessária somente por vingança - porque elas não podem fazer mais nada.
Mas elas podem destruir. E os ricos estão quase prontos para enforcarem-se em alguma árvore porque não existe razão para viver. Seus corações pararam de bater há muito tempo. Eles são apenas cadáveres - bem decorados, bem reverenciados, mas verdadeiramente vazios e fúteis.

O ocidente está realmente em uma condição muito pior do que o oriente, apesar de que para aqueles que não entendem parece que o ocidente está em uma melhor condição do que o oriente porque o oriente é pobre. Mas pobreza não é um problema tão grande quanto é o 
fracasso da riqueza; assim um homem é realmente pobre. Um pobre comum pelo menos tem os seus sonhos, esperanças, mas o homem rico não tem nada.

O que é preciso é um 
grande movimento de meditação atingindo cada pessoa.

E no ocidente essas pessoas que estão deprimidas estão indo aos psicanalistas, terapeutas e todos tipos de charlatões que 
estão eles mesmos deprimidos, mais deprimidos que seus pacientes - naturalmente, porque todo o dia eles estão escutando a respeito de depressão, desespero, ausência de significado. E vendo tantas pessoas talentosas em tal estado, elas próprias começam a perder os seus espíritos. Elas não podem ajudar; elas mesmas precisam de ajuda.

A função da minha escola será a de preparar pessoas com energia meditativa e enviá-las para o mundo apenas como exemplo para aqueles que estão deprimidos. Se eles podem ver que 
existem pessoas que não estão deprimidas - mas pelo contrário, que estão imensamente alegres - talvez uma esperança possa nascer dentro deles. Agora eles podem ter tudo e não há necessidade de se preocuparem. Eles podem meditar.

Eu não ensino a renúncia à sua riqueza ou a qualquer outra coisa. Deixe que tudo seja do jeito que é. Somente adicione uma coisa a mais na sua vida. Até agora você apenas tem adicionado coisas na sua vida. Agora 
adicione algo para o seu ser - e isto criará a música, isto criará o milagre, isto criará a mágica, isto criará uma nova vibração, uma nova juventude, um novo frescor.

Não é insolúvel. O problema é grande, mas 
a solução é muito simples.


Osho, em "The Transmission of the Lamp"
Imagens por David M*(davide) e p0psicle


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